coloco a
mão sobre o seu joelho
e você me
olha de frente
mas depois
vira de lado ajeitando o
retrovisor
por causa da chuva e eu quero dizer que aquela
frase era
de uma canção, a mesma que você tinha usado
em outro
lugar, então de novo você me olha
de frente
e sorri interrogando
minha
expressão sempre confusa
e eu
queria dizer que na viagem fraquejei
que tenho
medo de enlouquecer
que tenho
medo do que está
por vir
mas acabo contando a história
do homem
que perguntava
você me ama?
depois de anos casado
com a mesma mulher
e ela
dizia
não
e ele com
aquela música repetindo na cabeça
aquela
música sem parar tocando
ao fundo
ecoando
e ela
não
e ele
perguntava
será que eu sou louco?
perguntava
depois que o barco na enseada
ela indo
embora, fugindo
eu sou louco?
perguntava
depois do acidente, do barco apagando
bajo la
lluvia, 24 vezes a mesma carta enviada com o nome dela
e o
telefone chamando
na bolsa
hoje ela me viu na rua e veio contar
o que
tinha acontecido: vontade de gritar
vai embora daqui
não
quero mais ouvir essa voz
e ela
falando sem parar e eu
coloco a
mão sobre seu joelho e você
me olha
na hora e ela dizendo na rua que
não tinha
me reconhecido
antes
por
que então veio falar comigo?
mas não
digo só penso e aquele silêncio
e ela
dizendo que foi
por acaso
tudo bem
de agora em diante
e eu
pensando não me lembro o que dizer
nessas
horas, não suporto, será que um dia?,
e você
coloca a mão sobre o meu joelho e eu
olho para
você de frente, ainda ouvindo canção
pergunta
gritos de
afogamento
será que eu sou louco?
e digo
que você é uma das poucas
pessoas
que quero que fiquem aqui
e você me
responde
nunca sonhei em conhecer alguém
como você
e eu olho
de volta e digo
você
sabe que ninguém nunca
segurou minha mão
assim?
você vira
de lado ajeitando
o
retrovisor e se projeta pra ultrapassar
o carro
da frente.